Missa do Vaqueiro ganha livro e CD

Missa do Vaqueiro

Uma lenda contada através de canções que homenageiam e retratam a coragem, a força e a fé do homem sertanejo. É assim que pode ser definido o disco “Rezas de Sol para a Missa do Vaqueiro”.  Com 11 belas e emocionantes músicas, o CD será lançado oficialmente nesta quarta-feira (11), às 19h, durante uma cerimônia para convidados na sede da Publikimagem (Av. Montevidéu, 316, Boa Vista). O evento terá distribuição de autógrafos, presença dos artistas envolvidos no projeto e um pocket show do cantor Josildo Sá.

O CD reúne em ordem litúrgica as canções que embalam há anos a tradicional Missa do Vaqueiro, realizada anualmente em Serrita, município do Sertão pernambucano, no mês de julho. A ideia é resgatar as tradições, a memória, a religião e o trabalho dos vaqueiros. A iniciativa foi idealizada por Helena Câncio, responsável pela Fundação Padre João Câncio, para resgatar o papel do vaqueiro, o que também gerou a publicação do livro “Missa do Vaqueiro, 40 anos”.

A Missa do Vaqueiro, um dos maiores eventos culturais dos Sertões, tem sua origem na história de Raimundo Jacó, um vaqueiro habilidoso que, segundo a lenda, foi assassinado numa emboscada por algum desafeto da profissão. O cachorro de Jacó, seu fiel companheiro na aboiada, velou o corpo do vaqueiro dia e noite, até morrer de fome e sede. A história de coragem se transformou num mito do Sertão e três anos após o trágico fim, sua vida foi definitivamente consagrada pelo canto de Luiz Gonzaga. O Rei do Baião, que era primo de Jacó, transformou “A Morte do Vaqueiro” numa das mais conhecidas e emocionantes canções brasileiras. Os versos da música foram feitos em 1957 por Nelson Barbalho durante uma conversa com Gonzaga, que lhe contou sua vontade de prestar uma homenagem ao primo e a dificuldade por sempre se emocionar quando pensava na história. Barbalho, como não tinha laços afetivos com o vaqueiro morto, se propôs a fazer a canção, puxando os primeiros versos de imediato. O emocionante relato de Nelson Barbalho sobre a composição da “Morte do Vaqueiro” está disponível no encarte do CD.

Ainda em homenagem a Jacó e a todos os sertanejos pernambucanos e brasileiros, Gonzaga se junta com o padre paraibano João Câncio, criador da Pastoral do Vaqueiro, e com o poeta e radialista Pedro Bandeira para celebrar, em 1970, a primeira Missa do Vaqueiro. Um grande sucesso.

Por volta de 1974, durante o costumeiro show realizado por Gonzaga um dia antes da missa, o sanfoneiro pediu ao amigo Janduhy Finizola, em frente a centenas de vaqueiros, que criasse uma música especialmente para a missa. Nem um pouco intimidado, Janduhy declarou que não faria uma, mas sim todas as músicas. E com o acompanhamento de Gonzaga, as nove canções, que ficaram conhecidas como Rezas de Sol, ficaram prontas em apenas seis meses. Todas seguindo a estruturas dos ritos da igreja, tendo sempre como protagonistas o vaqueiro e a religião. Das nove canções, apenas três foram gravadas por Gonzaga. Mas, em 1976 todas as Rezas de Sol foram gravadas, com a liberação do Rei do Baião e Janduhy, pelo Quinteto Violado, que estava em início de carreira.

O novo CD mantém a ordem do disco de 76: inicia com a “Toada de Gado”, composta por Vavá Machado e Arlindo Marcolino e usada até hoje na abertura da missa, seguida pela “Morte do Vaqueiro”, de Barbalho e Gonzaga. A partir da terceira faixa começam as Rezas de Sol, formadas por “Jesus Sertanejo”, “Kirie Eleison”, “Glória”, “O Credo”, “Ofertório”, “Sanctus Sanctus”, “Pai Nosso”, “Comunhão” e “Canto de Despedida”.

Mas o disco está cheio de diferenciais. Podemos começar citando a produção assinada por Roberta Jansen e pelo cearense radicado no Rio José Milton, produtor musical escolhido pelo próprio Gonzaga para gravar seu disco de 50 anos de carreira. Também temos o resgate da musicalidade idealizada para as canções quando elas foram compostas – Janduhy dirigiu todo o CD, listando os instrumentos e ideias que ele gostaria que fossem utilizados. Além disso, todas as faixas do “Rezas de Sol para a Missa do Vaqueiro” são interpretadas por grandes medalhões da música brasileira, são eles: Coral Aboios, Fagner, Bia Marinho, Quinteto Violado, Santana O Cantador, Cezzinha, Maciel Melo, Elba Ramalho, Gennaro, Beto Hortis, Sério Reis e Josildo Sá. Outro ponto que merece um destaque especial é o fato da 3ª canção do disco – “Jesus Sertanejo” – ser interpretada pelo próprio Luiz Gonzaga através de um canal de voz original disponibilizado pela Sony Music. A canção possui arranjos novos, feitos por João Lira, com a voz do Rei do Baião, captada décadas atrás.

O CD “Rezas de Sol para a Missa do Vaqueiro” já pode ser comprado na loja Passa Disco (www.passadisco.com.br / 3268.0888).

 

Faixas

1.Toada de Gado – Coral Aboios

2. A Morte do Vaqueiro – Fagner

3. Jesus Sertanejo – Luiz Gonzaga

4. Kirie Eleison – Bia Marinho

5. Glória – Quinteto Violado

6. O Credo – Santanna O Cantador e Cezzinha

7. Ofertório – Maciel Melo

8. Sanctus, Sanctus – Elba Ramalho

9. Pai Nosso – Gennaro e Beto Hortis

10. Comunhão – Sérgio Reis

11. Canto de Despedida – Josildo Sá

O livro

Livro “Missa do Vaqueiro – 40 Anos” – Iniciada em 2010, a publicação escrita por Adriana Victor, Frederico Pernambucano de Melo e Janduhy Finizola presta uma homenagem à história e à tradição dos vaqueiros. O livro é dividido em três partes: O Vaqueiro, A História e As Músicas.

A primeira parte, assinada por Frederico Pernambucano, fala sobre a importância do vaqueiro, abordando os aspectos históricos e sociológicos envolvidos no evento e na figura do homem valente e temente a Deus. Adriana, por sua vez, retrata a história da missa e de um Sertão que se alegra para celebrar a sua gente e suas tradições, ao reproduzir em texto todas as impressões registradas durante a 40ª Missa do Vaqueiro. Ela fala, inclusive, sobre a história do amor proibido do padre João Câncio e de Helena, por quem ele largou a batina. Fala também da importância de João, que ao ver a pobreza e as injustiças cometidas contra os sertanejos passou a pregar a palavra de Deus vestido de gibão – veste de couro, com ornamentos e arabescos bordados à mão -, fundando, posteriormente, a Pastoral do Vaqueiro. Já o texto escrito por Janduhy é mais poético, revela a profunda relação do artista com o evento e reúne suas composições musicais, que formam a trilha sonora da missa até hoje.

Todas as fotos do livro, feitas por Hans von Manteuffel, Joana Calazans e João Rogério Filho, receberam versos em cordel do poeta cearense Pedro Bandeira, atualmente com 83 anos, e de Beto Brito, poeta paraibano.

Com apoio do Funcultura, “A Missa do Vaqueiro – 40 anos” é uma realização da Publikmagem Projetos e Marketing. O livro tem produção executiva de Bruno Herbert e Roberta Jansen e design de Edlamar Soares. Toda a renda arrecadada com a venda dos livros será doada à Fundação Padre João Câncio para custear novas edições do livro como também para auxiliar nos projetos que empreende em prol do vaqueiro nordestino.

 

Missa do Vaqueiro – Em 1970, foi celebrada pelo padre João Câncio, no Sítio Lajes, Serrita, a 1ª Missa do Vaqueiro. De acordo com a tradição, o início da celebração é dado com uma procissão de centenas vaqueiros a cavalo, que levam, em honras a Raimundo Jacó, oferendas – chapéu de couro, chicote, gibão (instrumentos de trabalho típicos do vaqueiro) – ao altar de pedra rústica em formato de ferradura. A missa acontece ao ar livre, sempre no penúltimo domingo do mês de julho. Já nos dias que antecedem a celebração da missa, Serrita vive um clima de festa folclórica, com romarias itinerantes com os vaqueiros, shows, vaquejada, pega de boi, palestras, exposições de artesanato e feirinha de comidas típicas.

A Missa do Vaqueiro é promovida pela Fundação Padre João Câncio, em parceria com a prefeitura de Serrita e a Associação dos Vaqueiros de Pega de Boi na Caatinga do Alto Sertão de Pernambuco (Apega). O Governo do Estado patrocina o evento através da Secretaria de Turismo e da Empetur.