Na noite mais eclética do Gravatá Jazz Festival, na segunda-feira de Carnaval (8/1), o público que voltou a lotar a enorme tenda montada no Parque Chucre Zarzar, no Centro de Gravatá, curtiu do rock old school ao erudito, passando pelo jazz e várias nuanças da música brasileira, especialmente a bossa nova, incrivelmente sem haver qualquer choque de ritmos. A mesma harmonia voltou a acontecer entre os músicos, que terminaram em clima de grande confraternização, juntos no palco. A programação, que contou com o cantor e violonista gravataense Maurício Meneses e as bandas recifenses Allycats e Mr. Trio, surpreendeu com a apresentação inédita e exclusiva que reuniu no mesmo palco o mestre Roberto Menescal, um dos criadores da bossa nova, o guitarrista Luciano Magno e seu Trio Sotaque e a cantora Sabrina Parlatore, com participações dos trompetistas Buiu e Mark Rapp e do Mr. Trio.
A música proporciona esses momentos mágicos. Antes do Gravatá Jazz Festival, Roberto Menescal e Sabrina Parlatore nem se conheciam. Eles ensaiaram no mesmo dia do show e mostraram um entrosamento perfeito, com direito até ao compositor entrar em uma canção para a qual não havia se preparado e mesmo assim mandar muito bem. Luciano e Menescal já se conhecem há oito anos, tocam juntos. O mestre era só elogios: “Luciano Magno é um dos dois melhores guitarristas do Brasil. O outro ainda não sei qual é, mas um é ele (Magno)”.
A terceira noite do Gravatá Jazz Festival começou já dando a dica do clima eclético que predominaria até o início da madrugada. Coube a um filho da terra, o cantor e violonista Maurício Meneses, dar o pontapé nos trabalhos. Também compositor e produtor cultural, o veterano mostrou sua especialidade, que é explorar a diversidade musical. Suas interpretações foram de sucessos de Bill Withers (Ain’t No Sunshine), passando por Nubia Laffayette (Devolvi) até Ritchie (Casanova).
Em seguida, a Allycats subiu ao palco e não deixou ninguém ficar parado. Influenciado pelo rock dos anos 1950, o country e o blues, o trio tem entre seus integrantes o guitarrista Daniel Diniz, Daniboy, que tocou por muitos anos na Uptown Band, banda anfitriã dos principais festivais de blues e jazz de Pernambuco. De sideman, ele passou a band-leader de um grupo cheio de estilo ao lado de Josias Campos (contrabaixo) e Carlos Cajueiro (bateria). O estilo e retro, com microfone estilo vintage, guitarra semiacústica e contrabaixo acústico (cujos solos fez a plateia vibrar muito), mas o som e bem atual. A banda, que prepara suas primeiras composições autorais, mostrou um repertório com sucessos de Stray Cats, Jerry Lee Lewis, Dick Dale And His Del Tones, Elvis Presley, Chuck Berry, Chubby Checker e The Beatles.
Virtuosismo foi a marca da apresentação do Mr. Trio, que em Gravatá, além de Marcos Diniz (teclados), Hito Pereira (bateria) e Liudinho Souza (saxofone), contou com a participação do baixista Laiton Vieira. Além de temas próprios, o quarteto interpretou composições que foram do erudito de Johann Sebastian Bach ao popular de Baden Powell cativando a admiração dos espectadores. Terminou a performance em ritmo de frevo.
Para encerrar, aconteceu um espetáculo, o mais esperado da noite, que fugiu aos parâmetros normais de qualquer apresentação. Começou com Roberto Menescal, Sabrina Parlatore e Buiu interpretando standards da música americana, como It’s Wonderful e Fly Me To The Moon. Depois, com o Mr. Trio de volta ao palco, fizeram Dindi e Georgia On My Mind.
Após chamar Luciano Magno para fazer um dueto em O Barquinho e Bye-Bye Brasil, Menescal voltou a elogiar o guitarrista: “Agora Luciano vai trazer a banda dele e eu vou ficar ali escutando, babando”, brincou. Com seus companheiros do Trio Sotaque, Fabio Valois (teclado) e Raimundo Batista (percussão), Luciano mostrou o tema próprio Sotaque e prestou tributos a Moacir Santos (Coisa Nº 10) e Jacob do Bandolim (Noites Cariocas).
A partir desse momento, começou uma grande jam session, com a volta de Menescal, Sabrina e Buiu para fazer Charme do Mundo (sucesso de Marina Lima), depois acrescentando Mark Rapp e Mr. Trio para fazer Summer Samba (So Nice) (Marcos Valle & Sergio Valle), com todos os 11 músicos tocando e cantando juntos e somando mais um momento histórico a esse primeiro ano do Gravatá Jazz Festival.
Texto: Marcos Toledo
Fotos: Julio Marcelo Guimarães