Oficialmente, a Terça-Feira Gorda (9/2) coincidiu com o Dia do Frevo. Mas foram o jazz e o blues que comandaram a festa no município de Gravata. A última noite do Gravatá Jazz Festival começou com um desfile ao melhor estilo do Mardi Gras de Nova Orleans, puxado pela Street Band, e com inclusão de carros antigos no cortejo. Pelo sempre lotado palco do Pátio de Eventos, no Parque Chucre Zarzar, passaram o pernambucano Dom Angelo Combo com o trompetista americano Mark Rapp; o guitarrista e cantor cearense Artur Menezes com o multi-instrumentista paulista Vasco Faé; a cantora e guitarrista britânica Bex Marshall; e a também pernambucana Uptown Band com o gaitista carioca Flávio Guimarães e o também multi-instrumentista Derico Sciotti. Isso sem contar as inúmeras participações de diversos músicos que passaram pelo evento e foram ficando e se somando à tertúlia, e até de uma artista que foi uma feliz surpresa inesperada.
A primeira parte da noite, por assim dizer, foi dos guitarristas. Após uma temporada em Portugal, Dom Angelo voltou para Pernambuco e, em Gravatá, deu uma palhinha de seu segundo álbum solo, exatamente com a faixa Porto, que nomeia o disco, mostrando seu virtuosismo peculiar. O restante do repertório foi dedicado a standards como Solar e So What (Miles Davis), ‘Round Midnight (Thelonious Monk), A Rã (Joao Donato) e Body And Soul, um clássico do gênero de vários autores. Acompanhado de Mark Rapp (trompete), Luciano Emerson (saxofone), Israel Silva (contrabaixo), Rostand Júnior (bateria) e Ed Staudinger (teclado), Dom Angelo ainda contou com as participações do trompetista mineiro Buiu e da cantora americana Staci Griesbach.
A curiosidade é que Staci, que vive em Los Angeles (EUA), estava no Rio de Janeiro fazendo um curso rápido de musica, veio para o Recife, soube do festival e acabou vindo para Gravatá e dando uma canja com o Dom Angelo Combo.
O segundo guitarrista, Artur Menezes, trilhou os caminhos do blues e do rock. Além de temas de seu trabalho autoral, dedicou dois momentos a um tributo a Jimi Hendrix (com Purple Haze e Fire). Depois, chamou Vasco Faé para o palco. Homem-show, Faé cantou e tocou guitarra em Superstition (Stevie Wonder) e ainda cantou e tocou gaita num medley de Hoochie Coochie Man (Muddy Waters) com Trem das Onze (Adoniran Barbosa), momento em que desceu para solar a harmônica no meio da plateia, que, claro, foi ao delírio.
Apesar do friozinho que fazia fora da enorme tenda montada no Pátio de Evento, na parte interna o clima só fazia esquentar. Acompanhada pelos pernambucanos Jackson Rocha (baixo), Ed Staudinger (teclado) e Hito Pereira (bateria), mais as participações de Buiu e Mark Rapp, a cantora e guitarrista inglesa Bex Marshall mostrou por que recebeu o prêmio de Melhor Artista Feminina no UK British Blues Awards. Pela segunda vez em Pernambuco, Bex tem um estilo marcante só comparável a Janis Joplin (1943-1970), tanto na voz quanto no visual. Como se não bastasse, toca muito bem suas guitarras, com um estilo que mistura blues, country, soul e rock’n’roll. Além de mostrar suas canções próprias e standards como Big Legged Women (Freddie King), Proud Mary (Creedence Clearwater Revival, mas na versão de Tina Turner) e Mercedes-Benz (Janis Joplin), um tema especifico chamou a atenção em seu repertório.
É muito comum ver um homem subir no palco, cantar e tocar guitarra. Ao interpretar It’s a Man’s Man’s Man’s World (James Brown), Bex deu seu recado que está aí para quebrar todas os paradigmas e convenções. Durante os quatro dias do festival, Bex se divertiu dando canjas, tirando fotos, bebendo, trocando ideia com uma pá de gente e participando de jam sessions. Mas em seu momento, seu show, ela subiu lá e arrasou no palco melhor do que muitos marmanjos.
A noite já estava pegando fogo quando coube à Uptown Band, grupo comandado pelo curador do festival, o também baterista Giovanni Papaleo, encerrar o evento em grande estilo. Os principais convidados da Uptown eram Derico (mais conhecido por atuar como músico no Programa do Jô, da Rede Globo) e Flávio Guimarães. Porém, ao longo da apresentação, mais ainda do que nos dias anteriores, os músicos ainda presentes na cidade foram se somando e se revezando no palco e repetindo o clima de confraternização que predominou no Gravatá Jazz Festival.
Com sua formação tradicional, que além de Papaleo conta com Adriana Nascimento (voz), Emerson Andrade (baixo) e Thomaz Lera (guitarra), mais o tecladista Ed Staudinger, a Uptown mostrou sua versão de Get Back (The Beatles) com arranjos de blues e Georgia On My Mind (Ray Charles). Foi aí que Derico surgiu solando seu saxofone lá do fundo da plateia e seguiu tocando até o palco, pelo meio da multidão.
A essa altura, já com duas baterias (a segunda com Hito Pereira), Flávio Guimarães e o guitarrista Rodrigo Morcego subiram para fazer o clássico My Baby (Willie Dixon). Com o também guitarrista Daniel Daniboy Diniz, tocaram I Can Do Bad By Myself (Jesse James). Aí foram subindo Buiu, Mark Rapp, Artur Menezes até o fim do repertório, já quase às 2h da madrugada da Quarta-Feira de Cinzas, quando todos tocaram juntos Come Together, dos Beatles, dando adeus à primeira edição do Gravatá Jazz Festival, um evento concebido e realizado em tempo recorde de 20 dias, com moral de festival grande do gênero, de grande aceitação de público e que vai deixar saudade até o Carnaval de 2017.
Texto: Marcos Toledo
Fotos: Marcelo Guimarães
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