Dualidade sertaneja em imagens: “O Livro do Sol”, de Gilvan Barreto
“O Livro do Sol” é a segunda publicação criada pelo fotógrafo Gilvan Barreto. Organizada pela editora Tempo d’Imagens, a produção é o resultado da viagem do autor pelo sertão, feita durante o verão de 2013, auge da maior seca dos últimos 60 anos. A obra traz os retratos sertanejos e as contradições da região: as relações entre água e seca, abundância e escassez, fotografia e literatura. O embate entre o homem a natureza, o concreto e o imaginário também estão presentes nas fotografias.
A ideia do livro, que será lançado hoje (dia 21 de novembro), às 19h30, no Capibaribe Centro da Imagem- CCI, na Rua da Aurora, 533, surgiu a partir da celebração dos 70 anos de lançamento de Pedra do Sono, livro de estreia do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto. Apesar da centelha despertada por Cabral, a obra de Gilvan assumiu vida própria: “Não me interessava fazer um diário fotográfico. Não queria um livro de estrada, com anotações no caderninho, diário de bordo repleto de casualidades”
O fotógrafo, conscientemente, escolheu caminhos, fez opções, buscou aquilo o que queria exibir do sertão. “Não busco o instante decisivo, declinei os instantâneos. O livro tinha que ser mais uma reflexão sobre essa imersão sertaneja do que um registro dessa experiência”, destaca o fotógrafo e autor.
O artista ainda conta que, dessa vez, quis fazer o livro de maneira diferente de sua primeira obra, “Moscouzinho”, lançado em 2012. “Fiz um road book, ou melhor, um livro de “rodagem” como diriam os sertanejos. Peguei a estrada sem cartas nas mangas, sem objetivos predefinidos. Viajava apenas com duas ideias fixas: a água e a poesia de João Cabral”.
Gilvan ainda explica o porquê do título. “Apesar do que o título pode sugerir, aqui não é o sol nascente que interessa. Mas o sol que evitamos, o sol que seca e destrói as coisas por lá: ‘O Monstro do Sertão’ (título de xilogravura de J. Borges). Uma fotografia que opera nas sombras pesadas desse sol. Este é um livro dos contrastes”.
Um texto de João Cabral de Melo Neto foi cedido pela família do poeta. Além disso, a ilustração da capa é um sol criado pelo escritor Ariano Suassuna, que também participou de conversas sobre o sertão com a equipe que produziu o livro. O volume conta com edição de imagens de Geórgia Quintas e do próprio Gilvan, projeto gráfico de Ricardo Gouveia de Melo e texto da jornalista Adriana Victor.
CCI – Inaugurado recentemente, o Capibaribe Centro da Imagem- CCI funciona como galeria de artes visuais com foco em fotografia e como laboratório de revelação analógica e de impressão fine art com equipamentos de alta tecnologia.
A iniciativa é do fotógrafo Chico Barros, referência no mercado profissional da região, com seu estúdio Sala de Foto. “Temos no CCI todas as etapas da fotografia. Desde cursos sobre o fazer da imagem, a revelação, a impressão e a exposição do material. E também esse lado de misturar tecnologia de ponta com técnicas antigas”, diz Chico Barros, que tem ao seu lado Germana e Naire Valadares na coordenação do espaço.
O Capibaribe Centro da Imagem – CCI, fica num antigo casarão na Rua Aurora, 533, na região central do Recife.
Gilvan Barreto é pernambucano mas reside no Rio de Janeiro há 8 anos. Participou de exposições coletivas no Brasil e no exterior, como em “Amrik – Um Retrato da Presença Á rabe na América Latina”, mostra apresentada em mais de 20 países. É autor de “Moscouzinho”(Tempo D’Imagem, 2012). A publicação traz uma narrativa poética sobre a reinvenção de sua cidade natal, uma Rússia tropical e nordestina. O livro recebeu Menção Honrosa no POY Latam 2013. Foi finalista no prêmio Conrado Wessel de Arte deste ano. Atualmente Gilvan está finalizando “O Livro do Sol”, que será lançado em novembro de 2013. O livro retrata a relação do sertanejo com a natureza, tendo com fio condutor a obra de João Cabral de Melo Neto. Além dos trabalhos autorais, dedica-se a fazer retratos e a documentar temas sociais e ambientais para organizações internacionais.
Belíssimo trabalho. Parabéns ao autor.