Paixão, Fé e Loucura nos 70 anos de Raimundo Carrero

Beleza, Paixão, Fé e Loucura nos  70 anos de Raimundo Carrero    

Autor pernambucano ganha exposição comemorativa no Museu do Estado. Abertura será na próxima terça, dia 13 de novembro,  com lançamento de “Condenados à Vida”, editado pela Cepe.

Raimundo carrero Foto Heudes Régis -

Um dos mais renomados escritores do País,Raimundo Carrero, ganha exposição comemorativa dos seus 70 anos de vida. A mostra, no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), vai ocupara galeria Lula Cardoso Ayres e será dividida em quatro espaços: Beleza, Loucura, Paixão e Fé na obra de Carrero. Será aberta no próximo dia 13 de novembro com o lançamento de Condenados à Vida, coletânea editada pela Companhia Editora de Pernambuco – Cepe, que reúne quatro das principais obras do autor.

Além da Cepe, apoiam o projeto a Secretaria de Cultura de Pernambuco, a Fundarpe, o Mepe e a Sociedade dos Amigos do Mepe. Com produção-executiva de Andréa Motta e concepção do jornalista e escritor Marcelo Pereira, a exposição “Condenados à Vida – 70 Anos de Raimundo Carrero” traz fotos, vídeos e objetos pessoais do autor, além de promover oficinas, leituras e debates com acadêmicos e escritores.

Screenshot_20181109-000710“A exposição será uma experiência de leitor, de leitura. Podemos dizer que o visitante não verá uma exposição, vai ler um livro que se move; um livro vivo. conhecer o homem e a sua obra”, diz o escritor Sidney Rocha, curador da exposição. Além dos eventos abertos, haverá uma extensa programação para escolas e universidades, públicas e privadas.

“É um livro em forma de exposição, ou seja, a obra do escritor Raimundo Carrero disposta em pilares que sintetizam os elementos que considero os mais interessantes, ou os mais frequentes no seu trabalho: a paixão e o sofrimento humano, que podem ser vistos como sinônimos, mas que não são exatamente a mesma coisa. A Fé, que está contida na paixão e no sofrimento, é central na vida-obra do autor. O quarto elemento ou o ‘cavaleiro do apocalipse particular’ dessa obra é a Beleza”, resume Sidney Rocha.

A abertura da exposição terá apresentação de Marcelo Pereira e de Ricardo Leitão, presidente da Companhia Editora de Pernambuco – Cepe. Durante todo novembro e parte de dezembro, sempre aos sábados e domingos, estão agendadas leituras e diálogos com convidados especiais como André Balaio , Cida Pedrosa, Evaldo Costa,  José Castelo, José Parísio, Lourival Holanda, Lula Arraes, Luzilá Gonçalves Ferreira, Marcos Creder, Nivaldo Tenório, Roberto Beltrão, Ronaldo Correia de Brito, Samarone Lima e  Wellington de Melo,  entre outros escritores e acadêmicos que discutem sobre esses temas na obra de Carrero.

 O aniversariante vai participar ativamente de todo o projeto. Autografa o livro Condenados à Vida, na abertura (13) e no encerramento (16 de dezembro). Durante a exposição, transfere sua oficina literária para o Mepe.

Para os textos nas paredes foram convidados escritores como Marcelino Freire, Ronaldo Correia de Brito, José Luís Passos e José Castello, que escreve longo ensaio na edição da Cepe. Os textos estarão também no catálogo da exposição. Ainda nas paredes, ensaio fotográfico do artista, feito por Heudes Regis, e projeção de cenas de filmes sobre ou inspirados na obra de Carrero.

Toda a programação é gratuita e aberta ao público. Destaque também para a programação pedagógica na qual os estudantes do ensino médio das escolas das redes públicas estadual e municipal fazem leituras de obras de Raimundo Carrero.

Mais informações na página do facebook :

https://www.facebook.com/carrero70anos/

Museu do Estado de Pernambuco:  Avenida Rui Barbosa, 960, Graças, Recife-PE

Entrevista com o curador, escritor Sidney Rocha:

Vamos começar contando um pouco da exposição…

É um livro em forma de exposição, ou seja, aCarrero Foto Heudes Regis obra do escritor Raimundo Carrero disposta em pilares que sintetizam os elementos que considero os mais interessantes, ou os mais frequentes no seu trabalho: a paixão e o sofrimento humano, que podem ser vistos como sinônimos, mas que não são exatamente a mesma coisa. A Fé, que está contida na paixão e no sofrimento, é central na vida-obra do autor. O quarto elemento ou o ‘cavaleiro do apocalipse particular’ dessa obra é a Beleza. Que tipo de esteta é Carrero? A exposição tenta oferecer uma possível resposta a essa pergunta. E o que mais? O tempo e a loucura. Tão onipresente, onisciente e onipotente nos seus personagens, egos e alteregos. Todos os seus livros têm esse traço da fuga da realidade. Se uma exposição pudesse ser um livro, esta seria um livro, e esse livro se chama Condenados à Vida, conjunto de elementos, formas  - digamos ênfases – da obra de Carrero.

Na mostra, há muito o que se dizer sobre Carrero, além da obra?

Vamos expor objetos pessoais, mas não objetos pessoais puramente como numa exposição comum. Dessas já há muitas. Vamos trazer ao público objetos do trato pessoal. Do trato íntimo que há na realidade de um escritor. Por exemplo, uma máquina que não é apenas uma máquina de escrever. Ela é, ela não apenas representa, o autor. O escrever é a máquina,  e o que maquina: metonímia e metáfora. Tudo no mundo existe para acabar em linguagem.

A exposição também como o artista trabalha, seu modus operandi, é isso?

Como é que ele se comporta ao escrever? Ele usa as duas mãos para escrever, as duas mãos para rezar, mais duas mãos para dedilhar um terço. Quantos tentáculos tem essa tarântula? Utilizando aí também uma metáfora da obra dele que é O escorpião e a tarântula.

A exposição é para os leitores. O leitor verá, por exemplo, objetos sagrados que, no decorrer do tempo, acompanharam o escritor em pelo menos meio século. Imagens, ícones… Todas elas estarão expostas no salão da Fé.

A montagem explora muito os recursos visuais. Qual será a experiência do visitante?

Em toda a exposição é garantida também uma atmosfera visual a partir das fotografias em torno dos temas. Vídeos em looping infinito estarão passando lá. É uma experiência estética.  A exposição terminará sendo uma experiência de leitor, uma experiência de leitura. Podemos dizer que o visitante não vai ver uma exposição, vai ler um livro que se move. Um livro vivo. E conhecer mais profundamente não um homem somente; como diria o poeta, quem “vê” esse livro não vê o homem, mas quem vê a exposição vê o homem e vê sua obra.

Na programação está prevista uma série de eventos para discutir a obra de Carrero. Como será isso?  

Na sala da Beleza, a mais interativa, é o espaço onde os visitantes vão assistir às palestras, leituras e filmes. Serão gravados vídeos com os visitantes. É onde vamos discutir a estética na obra de Carrero: a programação traz acadêmicos que a conhecem conversando com escritores. Autores que foram influenciados pela obra dele como Nivaldo Tenório, André Balaio, como José Parisio e outros escritores dessa nova geração. Minha ideia de curador é poder juntar essas gerações, não transformar Carrero em peça de museu, mas em algo vivo. A exposição é uma coisa pra cima.

Como serão as oficinas de Carrero durante a exposição?

A obra de um escritor como Carrero não se restringe ao que ele escreve. Mais do que escrever, lhe agrada falar sobre literatura, ensinar, aprender com seus leitores. Então isso é parte de sua obra e é por isso que está contemplada a oficina que é um trabalho que ele faz há mais de 20 anos. Ele é um dos grandes nomes da oficina literária no Brasil, não podemos negar. Não podia esquecer esse aspecto. Ele é um animal literário. Essa animalidade está contemplada na última sala, que é a da Loucura. A voracidade. Talvez Condenados à vida seja um pouco isso da grande vontade que Carrero tem de viver.  Embora seus temas sejam sempre ligados à morte, não conheço quem goste mais da vida. O homem passou por AVC etc. etc… e  continua vivo, trabalhando. Sua cabeça não para. Essa condenação à vida, ou essa danação à vida, ou essa “condanação” à vida reflete muita alegria e a tragédia na obra dele. Não é à toa que os personagens dele sofrem dessa bendita loucura. Os incestos, as quebras dos tabus, a agressividade, a religiosidade… Todos os elementos como a Paixão, a Fé e a Beleza são levados a um exponencial maior e transformam-se em Loucura, em Linguagem. Essa sala, assim, resume bem o que é essa leitura da obra dele.

Programação - Carrero